Maringa

Homero Marchese critica gastos públicos, defende alternância de poder e projeta candidatura em 2026

Novo episódio do podcast Ponto a Ponto traz Homero Marchese neste domingo (14)

Tempo estimado de leitura: 5 minutos

Por Ronaldo Nezo

O ex-vereador de Maringá e ex-deputado estadual Homero Marchese foi o convidado do podcast Ponto a Ponto, apresentado pelo jornalista Ronaldo Nezo e produzido em parceria com o V Mark Estúdio. Ao longo de mais de uma hora de conversa, o advogado analisou o cenário político local e nacional, fez críticas contundentes ao uso de recursos públicos, defendeu a alternância de poder e revelou seu desejo de disputar as eleições de 2026 como candidato a deputado federal pelo Partido Novo.

Fiscalização sem mandato

Mesmo fora da política institucional desde 2022, Marchese segue ativo no debate público. Ele afirma que a experiência como vereador e deputado o convenceu de que não pode se omitir diante de irregularidades.

“Estive seis anos com mandato, dois como vereador e quatro como deputado estadual, e isso me deu experiência para saber como as coisas acontecem na prática. Quando noto alguma coisa que não está legal e que a população precisa saber, ou quando vejo que eu mesmo posso agir provocando alguma autoridade, faço questão de fazer isso. Acho que é um dever meu como cidadão.”

A fala reflete a linha que tem marcado sua atuação nos últimos anos: usar as redes sociais, entrevistas e ações jurídicas como instrumentos de fiscalização. Para ele, a política não deve ser vista apenas como exercício de poder, mas como responsabilidade cívica que precisa ser compartilhada por todos.

Compadrio e peso dos impostos

Marchese também voltou a criticar a cultura do “compadrio” no poder público, prática que, segundo ele, explica boa parte das dificuldades do Brasil.

“Um dos problemas do Brasil é o compadrio. As pessoas percebem que é mais fácil combinar o jogo e mandar a conta para a população pagar do que cada um fazer a sua parte.”

Para o ex-deputado, esse ambiente de conchavos corrói a confiança na política e impede avanços concretos. Ele reforçou que a crítica permanente é essencial para evitar a repetição de erros e acrescentou que a carga tributária brasileira ilustra bem essa distorção. Ao comparar o presente com o passado, foi categórico:

“O brasileiro hoje paga em tributos mais de 40% do que ganha. Já tivemos no passado protestos contra o quinto, que era 20%. Hoje pagamos o dobro disso e a vida segue normal. Não pode ser normal um negócio desses.”

Na avaliação dele, somente um Estado mais enxuto e eficiente pode devolver às pessoas o fruto do próprio trabalho e estimular o desenvolvimento econômico e social.

A política local no centro do debate

Embora reconheça a importância das discussões em nível nacional, Marchese defende que a fiscalização comece no município, onde os problemas estão mais próximos do cidadão.

“Não tem sentido alguém criticar o governo federal por aumento de gastos e não fazer o mesmo na sua cidade ou no seu estado. Quem está perto do problema tem que focar na solução desse problema.”

Ele apontou como exemplo a ampliação do número de vereadores em Maringá, que passou de 15 para 23. Para Marchese, a promessa de que a mudança não aumentaria os custos foi descumprida.

“De 2023 para cá, a Câmara aumentou mais de 100% o número de servidores e a despesa com pessoal explodiu. Muito provavelmente o que temos ali é a distribuição de mais um cabo eleitoral para os vereadores.”

Segundo ele, a cidade não precisa de mais cargos, mas de vereadores que exerçam com seriedade as funções de legislar e fiscalizar. Essa visão reforça seu discurso de que a política local deve ser tratada com a mesma atenção crítica dispensada ao governo federal.

Estrutura política e reeleição

Ao analisar a dificuldade de renovação política no Brasil, Marchese atribuiu boa parte do problema à estrutura oferecida a quem ocupa cargos legislativos.

“O deputado, quando assume, passa a ter direito a uma assessoria grande e muitos usam isso para formar uma base eleitoral. Ele tem acesso a emendas, leva dinheiro para municípios e depois cobra apoio político. É uma briga desleal.”

Na prática, explica ele, esse sistema cria barreiras quase intransponíveis para quem tenta ingressar na política sem os mesmos recursos. O resultado, segundo Marchese, é a manutenção dos mesmos nomes por vários mandatos, o que enfraquece a representatividade e dificulta mudanças.

Alternância de poder e caso Hossokawa

A defesa da alternância de poder se concretizou na ação movida por Marchese contra a permanência de Mário Hossokawa na presidência da Câmara de Maringá. Após cinco mandatos consecutivos, Hossokawa acabou afastado em decisão confirmada pelo Supremo Tribunal Federal.

“Acredito muito na alternância de poder. O Estado não pode ser de alguém só, precisa oxigenar. Acho que fez muito bem para a cidade. Há uma arejada de ideias, novas possibilidades de acertos.”

Marchese argumentou que a reeleição ilimitada favorece acordos e barganhas políticas que mantêm determinadas figuras no poder, prejudicando o dinamismo democrático. Para ele, a decisão do STF representou um ganho para a cidade, ainda que traga riscos naturais com a entrada de novas lideranças.

Avaliação da gestão municipal

Ao ser questionado sobre a atual administração de Silvio Barros, o ex-deputado fez uma análise crítica.

“No geral, é uma administração que não empolga. Parece um governo cansado. Talvez alguém que já foi prefeito duas vezes não tenha o mesmo gás de quem assume pela primeira vez.”

Marchese, que era um dos possíveis candidatos na disputa pela prefeitura em 2024 e acabou não participando das eleições, considera que, apesar de alguns pontos positivos, a gestão atual não transmite energia e, em sua visão, não corresponde às expectativas de renovação política apresentadas durante a campanha.

Olhar para 2026

Na parte final da entrevista, Homero Marchese confirmou a intenção de disputar as eleições de 2026 como candidato a deputado federal pelo Partido Novo.

“Ano que vem, eu gostaria de ser candidato a deputado federal. É um desejo meu, é um desejo do partido. O momento do país exige pessoas combativas, que digam não ao avanço sobre as liberdades individuais, não aos abusos do Supremo Tribunal Federal e não a um Estado inchado e corrupto. Eu me sinto preparado para isso.”

Ele reconhece, no entanto, que a viabilidade da candidatura dependerá das condições de campanha e da capacidade de arrecadação, uma vez que disputar uma cadeira no Congresso exige estrutura e volume de votos. Ainda assim, afirma estar convicto de que a população deseja mudança e vê espaço para conquistar esse eleitorado.

Podcast Ponto a Ponto

O podcast Ponto a Ponto é uma produção do jornal Maringá Post, apresentado pelo jornalista Ronaldo Nezo e realizado em parceria com o V Mark Estúdio. O programa traz entrevistas e reflexões sobre temas que impactam a vida de Maringá, da região e do Brasil. O episódio completo está disponível no canal do Youtube.

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